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Castelos de areia: o que a impermanência me ensinou sobre viver melhor

🗝️ Caminho Estoico - Edição #039

Fevereiro de 2020.

Eu, ainda no segundo semestre da faculdade, havia acabado de conseguir minha primeira oportunidade profissional de verdade.

Uma contratação na Semco Partners, holding empresarial que geria diversos negócios. O tipo de lugar que qualquer jovem estudante de administração sonharia em começar sua carreira.

A sensação era indescritível. Ainda lembro de enviar mensagens para familiares e amigos, compartilhando a novidade, imaginando como os próximos meses seriam transformadores. Eu tinha planos, expectativas, um caminho aparentemente claro pela frente.

Uma semana depois, o mundo inteiro mudou.

COVID-19. Lockdown. Reuniões de emergência. Cortes. Reestruturação.

Em poucos dias, meu salário já havia sido reduzido pela metade "para segurar a barra". A empresa, antes tão sólida, agora navegava em águas completamente desconhecidas.

Lembro de voltar para casa naquele dia, ainda jovem e inexperiente, tentando processar o que estava acontecendo. Em uma semana, passei da euforia da primeira contratação para a incerteza absoluta.

Foi nesse momento que tive minha primeira lição verdadeira sobre a vida adulta:

O que consideramos permanente é apenas uma ilusão temporária.

A Ilusão da permanência

Nenhuma fundação é totalmente sólida

Talvez você já tenha vivido algo semelhante.

Aquele relacionamento que parecia inabalável até uma conversa mudar tudo. O projeto em que você investiu meses apenas para vê-lo transformar-se radicalmente por fatores além de seu controle. Ou mesmo os planos meticulosamente traçados, que se desfazem diante de um evento global imprevisto.

Construímos nossas vidas sobre fundações que acreditamos serem sólidas. Criamos rotinas, estabelecemos expectativas, fazemos planos para semestres, anos à frente. Como se o mundo fosse uma equação previsível e nós, os matemáticos no controle.

Marco Aurélio nos alertou sobre isso há quase dois mil anos:

Observe como todas as coisas estão continuamente mudando, e acostume-se a perceber que a natureza do universo ama nada tanto quanto mudar as coisas existentes e fazer novas que sejam parecidas.

Os estoicos entendiam algo que nossa sociedade moderna tenta desesperadamente negar: a impermanência não é apenas uma característica da vida – é sua essência.

Nossa resistência a essa verdade é uma das raízes de tanto sofrimento.

A tempestade e o marinheiro

Mares tempestuosos

Nos dias seguintes ao anúncio da pandemia e dos cortes salariais, encontrei-me sentado na janela do meu quarto, observando uma tempestade se formar no horizonte.

As nuvens escuras avançavam com aquela lentidão majestosa, engolindo o azul do céu. Pensei nos marinheiros antigos, que não tinham radares ou previsões meteorológicas, apenas seus olhos atentos e a experiência acumulada.

O bom marinheiro não amaldiçoa a tempestade. Ele a observa, compreende sua natureza, e ajusta suas velas.

Foi então que um pensamento cristalizou-se em minha mente inexperiente, mas ávida por compreensão:

Os estoicos não eram pessoas que negavam suas emoções, mas marinheiros experientes navegando os mares da impermanência.

Epicteto, nascido escravo e depois tornado filósofo, disse:

Não busques que as coisas aconteçam como desejas, mas deseja que sucedam como acontecem, e seguirás bem o curso da vida.

Não é sobre resignação passiva, como muitos interpretam erroneamente. É sobre reconhecer a natureza mutável da vida e desenvolver a habilidade de navegar essas mudanças com graça e propósito.

O rio e os passos

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