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A moderação que liberta - encontrando seu caminho em meio à folia
🗝️ Caminho Estoico - Edição #040

O Mar de Gente
17 anos. Cedendo à insistência dos amigos, lá estava eu – no meio de um bloco de carnaval pela primeira vez.
"Você precisa viver isso pelo menos uma vez!", eles repetiam há semanas. Refletindo sobre isso, talvez eles estivessem corretos. Por que não experimentar?
Em poucas horas, me vi pressionado por todos os lados num mar de corpos dançantes. Música alta demais para qualquer conversa. Bebidas sendo derramadas. O cheiro de suor e perfume misturados no ar quente de fevereiro.
Foi quando tive aquele momento de clareza – tão intenso que ainda me lembro nitidamente hoje.
Não pertencia àquele lugar.
Não era julgamento sobre os outros, mas uma certeza interior: aquilo não ressoava com quem eu era. Precisava sair dali.
A luta para atravessar a multidão em direção contrária foi física e simbólica. Estava literalmente nadando contra a corrente. Quando finalmente encontrei um espaço para respirar, longe da multidão, senti um alívio que transcendia o físico.
Naquele momento, entendi algo que o pensamento estoico tenta nos ensinar: ouvir a própria voz interior é mais importante que ceder ao clamor da multidão.

A filosofia estoica tem muito a nos ensinar sobre momentos como o Carnaval.
Os estoicos acreditavam que para ser reconhecido por certas qualidades, primeiro é necessário incorporá-las genuinamente em seu caráter. Em outras palavras, não deixe que contextos externos determinem quem você é ou como se comporta.
A temperança (sophrosyne) – uma das quatro virtudes cardeais do estoicismo – não significa privação ou puritanismo. É algo muito mais sofisticado: a capacidade de permanecer consciente e no controle em qualquer circunstância.
O filósofo estoico Musônio Rufo dizia:
Para comer apenas o que se deve, e como se deve, e quando se deve, é preciso conhecimento.
O mesmo se aplica a toda forma de prazer e celebração.
A questão não é se devemos ou não participar das festividades, mas como permanecemos fiéis a nossos valores enquanto o fazemos.

O Carnaval é fascinante como fenômeno cultural devido à sua capacidade de suspender temporariamente regras sociais. É um período de inversão, onde o que é normalmente proibido torna-se aceitável temporariamente.
"O que acontece no Carnaval, fica no Carnaval."
Esta frase – que todos já ouvimos – revela algo profundo sobre como encaramos a responsabilidade moral. Usamos o contexto como desculpa para abandonar nossos valores?
Os estoicos nos ensinariam que estes momentos de suspensão são, na verdade, nossos maiores testes. É fácil ter princípios quando não há tentações. O verdadeiro caráter se revela quando as barreiras sociais são removidas.
É intrigante refletir: se necessitamos de uma "justificativa" para agir de uma certa maneira, talvez devêssemos avaliar se essa ação está verdadeiramente em sintonia com nossa essência.
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